Pedem-me xerox e mais xerox.
Mas motivação pra ler é quase nada.
Da bolsa que ganho
Mal dá pro de cumê.
Verba pra apresentar trabalho
em congresso? Vistes isso Maria?
Mas calma lá.
Trabalho pra apresentar não há.
Pois não há verba.
Não há quem possa nos orientar.
Não há espaço pra estudar.
Não há.
A grade de nosso curso
é mais bagunçada que a divisão de salas do bloco.
Enfiam-me teorias pelo rabo
sem nem uma introdução com manteiguinha.
E ai
de mim se for chorar
Por
este azar.
Ai de
mim se for intervir
Se
for reclamar dessas proibições ridículas
Onde
meus amigos não podem cantar.
Se
for reclamar por não podermos ficar
nessas
salas tão modernas e climatizadas.
Afinal
aluno é malandro e marginal.
Vem
da periferia pra uma Instituição Federal
Pra
saber que quem decide é
A
elite branca: que manda e anula o indivíduo.
Que
diz que cultura é só uma
E o
aluno marginal só sabe quebrar,
Roubar,
mentir e fumar maconha.
Vamos
caladinhos de cabeça baixa,
fugindo
do sol e dos banhos de lama
para
uma biblioteca
que
não tem espaço, nem mesa,
nem
tomada e nem os livros que
nossos
amados mestres recomendam.
E aí
pedem-me xerox e mais xerox!
Mas
não há verba!
Por
favor, alguém diz para eles
que
não há verba...
Pois
aluno não tem vez e nem voz pra gritar
nessa
universidade pública que quer ser particular.