Raspas e Restos

raspas e restos por Tê Noronha 

Eu sei. Fiquei de te mandar notícias e só tenho enrolado. É verdade, é tanta enrolação que até eu estou de saco cheio. Pensei em mandar um postal só com "Tudo de novo. Mas, nada de novo". Você entenderia na hora, mas não ficaria satisfeita sem os detalhes.
E até teve o tempo em que eu adorava contar os detalhes da minha vida, mas hoje tudo aparentemente se repete.
Fico em duvida se digo que o trabalho vai uma merda ou se vai de boa na maré. Bom, não vai. Até no trabalho eu tenho enrolado.
Eu só bebo e fumo. Só vejo o tempo indo embora e eu não faço nada. Meu chuveiro tá quebrado, fica pingando direto e nossa! Como incomoda! Mas preciso terminar essa carta. Pelo menos essa. Seu aniversário tá bem aí, juro que queria te encher com notícias boas, mas eu não fiz nada pra que as notícias boas acontecessem. Você sabe minha teoria. As coisas acontecem quando você faz algo. Seja lá o que for. Seja lá o que você for.
E eu não fui e não fiz. Daqui uns meses eu solto um "como sempre, só pra variar".
Meu computador pifou, então espero que você ainda lembre da minha letra e entenda esses garranchos. Mas em matéria de carta, pra mim tem que ser escrita mesmo. Pra você sentir quando escrevi tão rápido de tão empolgada que estava.
Mas agora você deve perceber pelas letras redondinhas o quão entediada estou. Só não faço corações no lugar de pingos nos 'is' que é pra não sacanear. Tou tentando terminar sua carta há quase duas semanas. Dei um tempo no café, exagerei na cerveja. Exagerei mesmo. Perdi meus óculos e a pasta do trabalho.
Não tinha documentos importantes, só uns rabiscos de crônicas. Meu livro nunca vai pra frente mesmo.
Domingo talvez eu vá à praia com o Vicente. Ele anda no mesmo marasmo que eu. Acho incrível ter trocados pra umas cervejas e até comprei uns livros.
Faz tempo que não leio como antes. Três ou quatro livros de uma vez.
Adiei a tatuagem de novo. Até lá, vou mudar o desenho mil vezes. Queria que você estivesse aqui pra me ajudar a escolher. É, eu sei. Você não ajudaria muito. Na verdade, me deixaria mais confusa.
No fim a gente acostuma, não é?
Ia escrever mais (quem sabe na próxima?), mas agora é hora da cerveja!




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5 Responses to Raspas e Restos

  1. Darlan says:

    Cartas são espaços de tempo que parecem até mágicos pelo que nos causam e comovem. Cartas nunca deveriam ser esquecidas, apagadas, não relidas.

  2. o marasmo das incertezas. A solidão que nos acompanha no imenso mundo. Mas todo mundo é um mundo. Ainda que seja incerto generalizar, e no fundo ainda se achar em alguém que tem o mesmo a compatilhar.É complicado explicar, mas te liguei só pra dizer que lamentar nao vai ajudar e no final quem vai se importar é o teu eu que não quis escutar o bilhete que deixei na mesa do bar.

  3. @diegohag says:

    Mesmo tendo adorado o texto, confesso que me senti um pouco incomodado, uma vez que me identifiquei dentro das linhas escritas. O livro que não termino, a tatuagem que não faço, o Vicente... Bem, o Vicente eu não tenho, mas com certeza tenho alguém que o representa... Assim que tiver postagem nova me avise que virei comentar feliz.

    http://umtaldehag.blogspot.com.br/2013/04/alguem-aperta-o-start.html

  4. Nossa.

    Voce escreve muito bem!

    Muito Bom, Parebéns!

    Sou nova nesse universo blogueiro.

    Chega mais: www.queminteressa.blogspot.com

    Até

  5. Pamela Raiol says:

    que delícia essa carta