Braindead

Após a repressão quase sutil, eu exalava ódio. Dobrar o mestre seria algo muito mais complicado do que pensava. O ventilador rodava e não amenizava nem um pouco o calor.
O mestre tão gordo, arquejava durante a explicação sobre a variedade linguística. Outros ruídos tomavam conta da sala. Eram suspiros, bocejos, folhas sendo reviradas e somando-se tudo tínhamos impaciência. A plena vontade de estar em qualquer lugar que não fosse aquela sala.
Confinados por obrigação.
Voltei os olhos para o mestre, suas peles caíam, haviam bolhas de pus em seus músculos e ainda assim o desgraçado não parava de falar.
A turma parecia gostar. Salivavam feito cães a carne pútrida do mestre. Avançavam sobre ele feito urubus e aos poucos os ossos do mestre iam aparecendo. Com os lábios cheios de pus e pedacinhos de carne, alguns alunos repetiam tudo o que o mestre falara nas últimas horas.
E sua caveira ria da incapacidade da turma em produzir conhecimento. Pra mim era urubus, mas o mestre os chamava carinhosamente de corvos.
Com certeza seria a ave mais adequada para mascote do curso de Letras.
E não querendo ser hipócrita, pois eu nem poupava sequer os ossos do mestre. Lambia o crânio, sugava todo o sangue e pus que escorria por ele. Usava um lápis para arrancar-lhe os miolos e os vermes que já estavam por lá. Apareciam a cada piscada minha.
- Queiroz! Queiroz! Já falei para parar de fumar e vir assistir aula!
A sala estava vazia, o ventilador ainda rangia e eu era acordado novamente pelo vigia noturno.

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