Dolce far niente

- Você viu o que andam comentando, não é?
- Não tenho culpa. Ando sem tempo. Você sabe... A universidade, a escola, o escritório. Agora tenho um cachorro pra cuidar também. Um não, três.
- Você é especialista no dolce far niente, não me venha com desculpas.
- Até tu, Brutus?
-São apenas os fatos. Você se empolgou com essa vida boêmia, com esses trocados e cigarros mirrados sob o sol de setembro. Não adianta negar. Pode até haver universidade, escola, escritório e seus cachorros. Mas ainda assim você tem tempo pro café, pro cigarro, pra cerveja, pra um filme, pra ler Vila-Matas, pra discutir Teorias Literárias, pra conversar seja com quem for. Mas parar pra pensar como fazia antes, dedicar um tempinho a mim... Isso você nunca mais fez. Do que está fugindo agora?
- É isso que parece? Que eu vivo fugindo?
- É você quem diz.
- É você quem lê.
- Não adianta querer encerrar o assunto. Você não tem aula hoje e o Latim está bem adiantado. Aliás, parabéns. Seu cérebro parece uma sopa de letrinhas, onde elas se juntam e formam palavras como Scurra. Ou frases como Agda scurrae est.
- Você tá pegando pesado agora. E eu nem posso prometer nada...
- Porque você nunca cumpre promessas e é impulsiva e etc etc etc. Eu sei, eu sei. Não entendeu ainda o que quero?
- Entendi. Só não sei se quero escrever. Esse assunto tá por demais desgastado. Não pode ser resenha de livros?
- Claro que não, você tem outros blogs pra isso.
- Então é Escrever ou Morte?
- Exatamente.
- Vou pensar.
- E escrever.
- Isso. Vou pensar e escrever.
- Eu sabia que você cederia. Você sempre cede. Por que não discutiu e defendeu seus direitos de viver como quiser? Que tipo de jovem é você?
- Não sou jovem. Sou um E.T, fugi da área 51 quando a Guerra Fria acontecia. Eu gostava mais dos russos,  mas o navio pirata que peguei levou ao pé da letra quando falei que queria ter uma "Boa Vista" pra mim. Acabei parando aqui, sem lenço e sem...
- Documento, eu sei. Não cante essa música. Aliás, você deixou a Sony esperando na universidade. É melhor ir, você sabe que ela fica irritad- Hey! Hey! Você esqueceu seu bloco de notas! Droga. Ela vai me enrolar de novo.

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3 Responses to Dolce far niente

  1. Henrique says:

    É empolgante saber que o nada entre tuas palavras tornam-se tudo. Quando por um tempo, quando por um espaço, consigo compreender os fatos e saber os nuances, tuas dúvidas.
    Torná-las visíveis entre o embaralhado, é a arte intertextual que faz ser uma graça. Mas, ao mesmo tempo, esse jogo de encanto pintado a tinta guache, maquia alguns desgastes.

  2. Sony Ferseck says:

    Até eu entrei aí?! A loka!!! A Dorothy, pequena. Aliás, olha só que eu aprontei! http://sonyferseck.blogspot.com

  3. Juliana says:

    era mais fácil quando a gente escrevia para se expressar. e se expressava. e escrevia. e tudo ficava melhor.