Stardust

Hoje fui ao médico. Tenho que levar uns exames para o trabalho.
Enquanto esperava ser atendida, tive a sensação de que não me restava muito tempo de vida. Não apenas por estar em um lugar onde muitas vezes a vida começa e termina. Talvez por ter visto um senhor passar na minha frente tomando soro em uma cadeira de rodas com os olhos baixos. Olhos opacos. Vazios de vida. Ainda assim não descobri o significado dessa sensação. E essa não era a primeira vez que acontecia.
A sensação de pouco tempo vinha rápido. Como uma lufada de vento quente. Você sente na pele, não consegue respirar e na maioria das vezes fede.
O fedor a que me refiro são as piores lembranças possíveis. Lembranças que me pertencem, lembranças que não faço ideia de onde vieram...
Elas chegam rápido, dão um rodopio na minha cabeça e então as espanto com minha mão livre.
"Agora não". Digo a elas. É assim que sempre espanto meus medos.
Ocupo minha mente olhando a rachadura coberta com uma tinta de tom mais claro que o resto da parede. Escuto o barulho do ar-condicionado e observo também pequenos vestígios de poeira saindo dele.
O contraste com a luz do sol gera um balé de pequeninos grãos de poeira. Então me lembro que somos feitos de poeira. Lama talvez. Mas no fim, não passamos de poeira de estrelas.

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